Um “checking” profissional, dezesseis anos depois

Há dezesseis anos eu me formava em Jornalismo e minha turma fez um “convite-manifesto” com cada colega fazendo sua reflexão sobre a profissão para os convidados do evento de formatura. Reproduzo o texto abaixo, inquieto por constatar que algumas coisas ainda não mudaram todo esse tempo depois e feliz por considerar que tentei seguir à risca caminho dos valores que menciono no texto. Texto publicado em abril de 2003.

“Como poderia produzir um texto que fale sobre o Jornalismo no contexto de uma turma de formandos? Primeiramente, os estudiosos logo diriam que este texto começou mal redigido em termos jornalísticos por instaurar uma dúvida em vez de procurar a objetividade tão almejada pelos jornalistas. Ora, deve-se esclarecer o leitor e não o confundir.

Entretanto, depois de quatro anos é este agora jornalista que se pergunta e faz um questionamento mais amplo sobre as certezas construídas pelos vários anos de existência prática, acadêmica e social do próprio Jornalismo, comparadas com a realidade atual. Nesse sentido, a Universidade mesmo com toda a enormidade de seus problemas e defeitos, proporcionou um bom nível de aprendizado teórico, ético e técnico. Mas a realidade da nossa profissão passa por tantas mudanças que nos impõe um desafio.

Afinal de contas, nesses quatros anos, o diploma de jornalista foi cassado o mercado de trabalho mostra-se cada vez mais retraído, duro e dependente dos governos e dos políticos (em grande parte lacaios) e as novas tecnologias abriram as possibilidades da Comunicação de tal forma que o antigo modelo de jornalista parece estar em xeque. Essa realidade chega gerar em muitos uma falta de perspectiva profissional.

Talvez não seja exagero afirmar que sejam justamente as crises, rupturas e mudanças bruscas o que melhor caracterizam o mundo atual. Particularmente, isso não me afeta muito. O que me preocupa sobretudo é o sentimento de conformismo e de rotina que vai se generalizando. Conformismo muitas vezes aumentado pela falta de ética dos maus jornalistas e empresários. Acredito que a crise enfrentada pelo jornalista (e por quem quer ser bom jornalista) é fruto da necessidade de construção de um novo profissional capaz de articular e reportar com credibilidade e isenção as demandas da sociedade, que também é dinâmica. São estes o grande diferencial e o desafio que enfrentamos a partir e agora.

Este desafio, forjado no meio de um questionamento, está na essência do próprio Jornalismo que é parente a dúvida. Afinal, jornalista não confia, investiga, confere. Há, porém, um tipo de sentimento que deve ser refutado: o medo, pois como bem afirma o jornalista Cláudio Augusto Melo, ‘jornalista com medo é tudo, menos jornalista’.”

Vai aqui uma sugestão: adquira e mantenha o hábito de refletir e escrever sobre seus momentos profissionais e de vida. Anote e guarde esse material com suas ponderações, seja na forma de um diário pessoal ou coletânea de artigos (publicados ou não). Mesmo que para consumo interno e, anos depois, releia.

Faço isso há vários anos e, a cada vez que releio, promovo um encontro comigo mesmo e avalio o quanto continuo acreditando, sentindo – ou não no que eu descrevia à época. No caso desse texto, acredito que se eu o tivesse escrito hoje, ele ainda seria atual. E continuo com a mesma posição: NÃO sou favorável à extinção da necessidade de registro para jornalistas e publicitários. Com

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