Sempre concordei com a ideia de que a Comunicação passa mesmo pela noção clássica de comunhão, de partilha e de estabelecimento de uma ponte com o Mundo. Há alguns dias atrás, ao refletir sobre isso numa roda de amigos da Universidade, mencionei o tempo de menino interiorano em que buscava as notícias do Barra do Garças Futebol Clube (o glorioso Galo da Serra) exclusivamente nas ondas das Rádios Aruanã e Difusora. Não havia hipótese viável de recuperar a informação caso perdesse o horário dos programas esportivos. Portanto, precisava organizar meu tempo, as atividades escolares e tarefas com o jornalzinho de classe semanal (que eu fazia a mão, xerocava e distribuía para os amigos) para ouvir aos programas.
Eram idos de 1995, mas ainda me recordo, claramente, da ocasião em que o professor Gilmar, de Biologia, sugeriu que nós estudantes fizéssemos uma ação para conscientizar as pessoas que frequentavam as cachoeiras da Serra do Roncador, sobre a importância de zelar daquele santuário, sempre refém de depredadores e do descarte de lixo indiscriminado. Inovador, para época e para a ensino escolar na cidade, sugeriu que escrevêssemos sobre o assunto, fizéssemos uma “vaquinha” e produzíssemos um foldér (isso mesmo, lembro da entonação dele e da percepção de que, no fundo, nenhum de nós na época sabia mesmo o que era um folder). Mas foi uma novidade para aquele Mundo em que eu vivia, um estudante pensar, produzir e imprimir um material gráfico. Era um tempo de escassez.
O tempo passou, em 1998 entrei na Faculdade de Comunicação e acompanhei mudanças mais profundas. Lembro-me que os meus primeiros trabalhos acadêmicos ainda foram em máquinas de datilografar e a universidade (com dificuldades, já naquela época) buscava recursos para finalizar o laboratório de informática. Vivi a transição desses mundos e uma discussão inesquecível daquele tempo (e que valeu nota da disciplina de Fotojornalismo) foi sobre os efeitos da chegada das Máquinas Fotográficas Digitais. Aquilo era mesmo Fotografia? Quais as consequências éticas de se editar uma imagem? Onde ficaria a técnica e olhar humanos?
O tempo passou muito veloz e já alguns anos depois de formado eu e meus colegas sabíamos que a redação de um veículo jornalístico não era mais nosso único caminho natural. Estava crescendo a assessoria de imprensa, de comunicação e a comunicação corporativa. E era evidente que o conhecimento adquirido já não dava mais conta do mundo, bem mais complexo que antigamente. As entidades, movimentos sociais e corporações (eu já trabalhava em uma delas) passaram a ter voz e agir também pelo que diziam e pelos acontecimentos significantes que produziam, tornando a Comunicação um grande espaço de socialização de discursos. O mundo ali já era de abundância e a maioria da minha geração sentiu isso. Mas ainda era possível reduzir o Gap e se posicionar nesse novo mercado de trabalho.
Com a maturidade, alguns anos de mercado, dedicação e muito suor é natural que surjam novos desafios na carreira de um profissional. Mas o mercado mudou de novo e, no meu caso ao menos, por caminhos tortuosos me tornou um novo tipo de profissional: de um jornalista com inclinação pelo jornalismo esportivo, para um “comunicador-gestor”, que teve que buscar imersões pelo Marketing, pelo esporte, pela gestão, pela organização de eventos e pela Administração. Uma necessária mudança de cidade me obrigou aprender instantaneamente novos conceitos, a discutir métricas para decisão, buscar conceitos de mercado, de finanças, devorar (ou ser devorado) o Mundo Digital.
E aprender o jogo sinuoso da gestão de pessoas e de uma comunicação excludente dos conceitos “inglesificados”; alguns deles vazios de significado: da mudança de mindset, do disruptivo, do ágil, B2C, do estar na mesma página, do Data Driven Marketing. Confesso: tenho na minha agenda uma lista com 32 palavras “do mundo disruptivo”.
Isso, para mim, representa a própria traição do ideal de comunhão e partilha da Comunicação, estimulando o abismo entre as pessoas por meio de uma linguagem baseada em termos, que no fundo, se traduzidos pouco trazem de novidade substancial.
A grande maioria dos colegas de minha geração atuam hoje em campos bem diferentes do que planejaram. Claro que isso é natural, mas, acredito que, quinze anos depois, não somos nem sombra distante do que imaginávamos e estaríamos assustados com a explosão de conteúdos e de informação que circula pelo mundo hoje: só no YouTube cerca de 60 horas de vídeo são subidas para o site, a cada minuto.
Kierkegaard disse que a “vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente”. Então, mudo meu olhar e busco refletir no que fazemos hoje e arriscar um palpite para o futuro. Parece-me que entramos mesmo numa era de Revoluções e mudanças contínuas, em que “tudo que é sólido se desmancha no ar” (Bermann). O excesso de informação, de inovação e de estímulo alcançaram um nível tal que agora as Tecnologias da Comunicação e o Mundo nos trazem infinitos caminhos, difíceis de absorver.
Causadores de estresse e angústia haja aplicativo e GPS que apontem para um futuro novo, que já está aí, e de novo, sem nenhuma garantia de sucesso e estabilidade. A Inteligência Artificial chegou com tudo e suas consequências totais nem me atrevo a descrever ainda.
Arranjo um tempo para me atualizar novamente: agora existem uma gama de universidades, escolas, cursos, profissionais e especialistas que prometem dar um pedaço de conhecimento que dê conta desse Mundo. É possível mesmo se manter bem informado?
O profissional do futuro, ou melhor de hoje, terá que trabalhar numa espécie de Núcleo de Inteligência, aprender de Algoritmo e entender grandes bases de dados para traçar tendências e produzir conteúdo. Será que da Era da Abundância chegaremos a Era da Infinitude?
Pense nisso ao conduzir sua jornada, avaliar que rumo sua vida está tomando e leve consigo algumas habilidades importantes que terá que desenvolver para a gestão do seu conhecimento e carreira: busque produtores de conteúdo especializados que possam agir como curadores e selecionar o que é mais importante para sua carreira, garantido assim uma melhor gestão de tempo; não despreze o ensino à distância, nas suas mais diferentes modalidades como forma de capacitação contínua, rápida e fundamental e busque fazer um planejamento mínimo com metas e objetivos ao menos anuais. Faço isso desde os meus 21 anos e os resultados são fantásticos.
Assim, você começará a trilhar um caminho na busca pela gestão eficaz de tempo e da própria Vida.